O Vale do Ribeira, no Sul do Estado de São Paulo, foi uma das
primeiras regiões do país a chamar a atenção dos colonizadores, pela facilidade
de estabelecer portos e adentrar ao interior, através da nevegação pelo Rio
Ribeira.
A Ilha do Bom Abrigo, localizada próxima a Cananéia e Ilha do
Cardoso, já constava como referência nos primeiros mapas da costa brasileira,
em 1530, demonstrando o grande interesse pela exploração do local.
No século XVI, na época das Capitanias Hereditárias, alguns núcleos
já haviam se formado, destacando-se entre eles Iguape e Cananéia, localizadas
ao Sul da então Capitania de São Vicente. Situados na divisa do Tratado de
Tordesilhas, os dois vilarejos eram palco de constantes conflitos entre
portugueses (conhecidos como vicentinos), e espanhóis (chamados de
caparaenses), em disputa pelos direitos de povoamento e exploração dos recursos
da região.
O fundador de Iguape, o espanhol Rui Garcia de Mosquera era
refugiado e, em 1537 conseguiu estabelecer relações com os tupiniquins, então
se fixar fundando o vilarejo.
Cananéia surgiu mais cedo. Já em 1531, quando Martim Afonso de Souza
aí aportou, o povoado já contava com mais de 200 habitantes. Porém, teve o
início de sua história um pouco diferente dos rumos tomados por Iguape.
Enquanto nesta, o crescimento circulava em torno da busca do ouro, Cananéia
preocupava-se em desenvolver a agricultura, especialmente o cultivo da
mandioca, servindo de entreposto para abastecer as tropas que dalí partiam em
direção ao Sul, para disputas territoriais na região do Prata.
Iguape crescia basicamente pela atividade portuaria, como ponto de
partida para aventureiros que buscavam ouro na região do alto Ribeira. Tal era
a importância do minério, que estabeleceu-se alí a primeira casa da moeda
brasileira, em 1635, no prédio onde funciona hoje o Museu Histórico de Iguape.
As embarcações subiam o Rio Ribeira até o atual município de
Eldorado, chamado na época de Xiririca, donde partia-se para Iporanga em canoas
pelo vale do Rio Betari, ou a pé acompanhados de muares para transporte de
cargas. O povoamento da região se deu portanto em função da mineração,
acompanhando o curso destes rios que eram a mais rápida via de acesso ao
interior. Ao longo deles fundaram-se os atuais municípios de Apiaí, Porto dos
Pilões, Ivoporunduva, Iporanga e Sete Barras.
No século XVIII, o ouro da região do Ribeira torna-se cada vez mais
escasso. Os garimpeiros tem então seus interesses voltados para as Minas
Gerais, abandonando Iguape. Mesmo em plena decadência, o vilarejo consegue,
ainda em 1763, erguer-se à condição de Freguesia.
No início do século XIX, as cidades ribeirinhas começam
gradativamente a integrar-se a uma nova atividade econômica: o cultivo do
arroz. A região demonstra-se propícia para tal, devido as extensas planícies
inundáveis e alagadiços que circundam o Rio Ribeira.
Iguape ocupa então, posição de destaque, sendo o primeiro produtor
nacional do grão, “o arroz de Iguape”, exportado dalí para todo o país, e
premiado internacionalmente por sua qualidade. Dos 119 engenhos de arroz
existentes na então província de São Paulo, 100 (84,1%) localizavam-se na
região do Vale do Ribeira.
A necessidade de transporte mais rápido do arroz e de outras
mercadorias levou a um desenvolvimento acentuado da industria naval, que
exploraria ainda por muito tempo, estas extensas vias cedidas pela natureza.
Inúmeros estaleiros surgiram em Iguape e Cananéia, impulsionandoindiretamente o
desenvolvimento destas vilas.
O arroz produzido no Ribeira, era levado pelo rio até Iguape e
embarcado em navios maiores que transportavam-no aos portos de Santos e Rio de
Janeiro. Daí era então distribuído ao resto do país.
Outros produtos obtiveram sucesso também na época, embora em menor
escala. É o caso das criações de porcos e plantações de milho.
No intuito de facilitar o transporte de mercadorias até o Mar
Pequeno (que consequentemente baratearia o preço do arroz), os habitantes do
vale solicitam do Imperador D. Pedro Segundo, a abertura de um canal fluvial
que ligasse o Rio Ribeira ao Porto de Iguape.
O canal, conhecido como “Valo Grande”, teve então suas obras
iniciadas em 1805, depois de amplos estudos e discussões sobre suas
consequências ambientais. Em 1850 era finalizada uma das grandes obras faraônicas
do Império, construída toda em mão de obra escrava, com dois quilômetros de
extensão e quatro metros de largura, dimensões estas que mal permitiam que duas
canoas se cruzassem em seu percurso.
Apesar de todos os esforços, porém, a região entra novamente em
decadência. O método de produção do arroz utilizado na época, de colheita cacho
a cacho, torna-se moroso. Segundo reportagem da época (1888), não rendia a cada
lavrador mais que 150 litros de grãos por dia. Enquanto utilizando-se
ceifadeiras, poderia-se colher até 600 litros no mesmo período. Portanto, a
técnica de produção não evolui, e o produto passa a perder rentabilidade.
O empobrecimento das fazendas, que possuiam sistema de produção em
parcerias, induz ao aparecimento de posseiros, a formação de pequenos sítios
pobres e ao isolamento do caipira em seus pequenos pedaços de terra. Retoma-se
o regime de produção de subsistência, onde vários produtos são cultivados em
pequenos lotes, com a finalidade de abastecer pequenos grupos isolados e permitir
a troca por mercadorias adquiridas nos centros, Iguape e Cananéia.
Durante a decadência do arroz no Vale do Ribeira, as primeiras
fazendas de café foram implantadas, com grande investimento e tecnologia
avançada, no intuito de obter-se um café fino, de alta qualidade. 63 Famílias
de imigrantes da Lombardia (Itália) foram contratadas especialmente para o
tratamento do café “Bourbon”, uma variedade que começava a produzir
precocemente, com apenas três anos de cultivo. Impressionados com os resultados
obtidos nestas fazendas, outros fazendeiros do vale investiram no café, embora
em menor escala.
O café permaneceu em alta até o início deste século. Após a segunda
década, porém, o eixo de produção e comercialização do produto já mudava-se
para o Vale do Paraíba, onde um maior incentivo do governo e a facilidade de
trasporte por via férrea baixavam o preço no mercado. A quebra da bolsa de Nova
Iorque, em 1929 foi a gota d’água para início da nova decadência da região. Fim
dos incentivos, muitos fazendeiros faliram, já que o produto além de mais caro,
era considerado de qualidade inferior.
O intervalo entre as décadas de 10 e 40, de total descaso do governo
para com a região, foi suficiente para aquisição dos traços de
subdesenvolvimento que aí perduram até hoje.
Desta época em diante, a região assumiu nova atividade econômica,
baseada no cultivo da banana (tradicional na região e de fácil cultivo), já que
um amplo mercado se expandia com o crescimento de São Paulo, e do consequente
aumento da população de baixa renda, responsável pela maior parcela de consumo
do produto. A construção das primeiras rodovias na região, apesar de pequenas,
começam a facilitar o escoamento da produção.
Outro produto que começa a ser cultivado em larga escala na região,
é o chá. Este tem no imigrante japonês (maior colônia estrangeira da região),
seu principal produtor. Os japoneses começaram a ocupar a região, no início do
século, com os incentivos fiscais do governo e, apesar da grande dispersão
ocorrida durante as crises do café, mantiveram-se na região até hoje. O chá,
diferentemente da banana, tinha na alta sociedade carioca, seu principal centro
consumidor. O produto ocupou posição de destaque na região, tanto que no
período de 35 a 45, 60% do chá produzido no Brasil era proveniente de Registro.
A construção da BR 116, na década de 60, integrou por fim a região,
a São Paulo.
O desenvolvimento do Vale do Ribeira teve até esta época, seu eixo
voltado para as regiões centro e norte, aproximando-se do principal centro
consumidor, a cidade de São Paulo. Os primeiros municípios da região, Cananéia
e Iguape, deslocados deste eixo, passam a ter sua economia voltada para o
pequeno comércio que abastece as necessidades das fazendas da região e à
produção pesqueira, bastante promissora frente a riqueza do estuário. Nos
últimos anos, a exploração do turismo, atraído pelas belezas naturais da
região, bem como a crescimento e ocupação descontrolados da Ilha Comprida, por
veranistas que buscam suas praias, tem se mostrado promissor, embora ainda insipiente
e crescendo sem o planejamento e estrutura adequadas à atividade.
A última tendência econômica do vale, surgida nos últimos anos e
ainda pouco desenvolvida, é a criação de búfalos, que tem nas grandes planícies
inundáveis, brejos e alagadiços, ambiente agradável a estes animais.